2 Poemas dedicados a Fernão de Magalhães no Dia Mundial da Língua Portuguesa

Estrutura de Missão May 5 2021

Associando as comemorações do V Centenário da Primeira Circum-Navegação, ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, recordam-se …

Associando as comemorações do V Centenário da Primeira Circum-Navegação, ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, recordam-se os poemas de homenagem a Fernão de Magalhães escritos por dois dos maiores expoentes da língua em que se expressam 265 milhões de pessoas em todo o mundo: Fernando Pessoa e Miguel Torga.

Fernando Pessoa

FERNÃO DE MAGALHÃES

No vale clareia uma fogueira.

Uma dança sacode a terra inteira.

E sombras disformes e descompostas

Em clarões negros do vale vão

Subitamente pelas encostas,

Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?

São os Titãs, os filhos da Terra,

Que dançam da morte do marinheiro

Que quis cingir o materno vulto —

Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,

Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada

Do morto ainda comanda a armada,

Pulso sem corpo ao leme a guiar

As naus no resto do fim do espaço:

Que até ausente soube cercar

A terra inteira com seu abraço.

Violou a Terra. Mas eles não

O sabem, e dançam na solidão;

E sombras disformes e descompostas,

Indo perder-se nos horizontes,

Galgam do vale pelas encostas

Dos mudos montes.

Miguel Torga

FERNÃO DE MAGALHÃES

Fernão de Magalhães da Ibéria toda,

Alma de tojo arnal sobre uma fraga

A namorar a terra em corpo inteiro,

Consciência do fim no fim da boda,

Fernão de Magalhães que andaste à roda

De quanto Portugal sonhou primeiro:

Ter um destino, é não caber no berço

Onde o corpo nasceu.

É transpor as fronteiras uma a uma

E morrer sem nenhuma,

Às lançadas à bruma,

A cuidar que a ilusão é que venceu.